quinta-feira, 22 de abril de 2010

*Crônica III*

"É extremamente fácil enganar a si mesmo pois o homem geralmete acredita no que deseja." Demóstenes.
Parou aterrada. Sentiu tudo em volta girando numa ciranda sem fim. Havia perdido o chão, e por um momento pensou que fosse cair. Mas então, retornando ao centro de equilíbrio, tão bem formado pela criação que recebera, ergueu-se novamente e seguiu. Deu um sorriso de ira e saiu.
- Amelie, me perdoe, por favor!- gritou Hernand.
Não. Aquela situação era demasiadamente vexatória para que ela suportasse, ainda que Amelie quisesse, não poderia perdoar. Afinal, depois daqueles anos todos sendo a companheira fiel, mesmo as pessoas mais calmas e submissas, como Amelie, não seriam capazes de suportar. Logo ela, uma dona de casa dedicada, uma esposa exemplar ao longo dos 10 anos de casamento, fora outros de namoro et al, deparar-se com uma cena daquelas, era a queda da sua Roma particular. Mas, diferentemente de outras pessoas, ela não ficou buscando erros no passado, nela ou em qualquer outra coisa. Realmente só desejava uma coisa: sair dali. Todo aquele ar a fazia sufocar.
Não foi se consolar com a mãe ou com a amiga. Não pensou no que a outra tinha que ela não tinha. Não.
Somente pensava em seguir seu caminho, em recomeçar, não sabia exatamente por onde, mas precisava andar rumo a um final feliz, como os que lera nos livros que ganhara da mãe. Mesmo sendo de uma família tradicional, tinha a certeza que poderia ir em frente. E sem dúvidas ela iria, pois toda aquela situação a dera forças e sentiu que abrigava em si um potencial enorme de poder iniciar do zero, quantas vezes fossem necessárias. No fundo desejava não ter que recomeçar tantas vezes, mas o faria se necessário fosse. Sim, agora sim.

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